O maior desejo da poetisa brasileira Cecília Meireles durante visita a Portugal era conhecer Fernando Pessoa. O poeta, porém, não compareceu ao encontro e deixou Cecília na espera por quase duas horas. Ao voltar ao hotel, ela topou com um livro e uma carta de pessoa. Nele, o gênio português pedia desculpas por não ter ido ao encontro. O motivo? Os astros diziam que os dois não podiam se encontrar naquele dia.

Autopsicografia



O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Ao chegar algumas horas atrasado em um encontro com o escritor português José Régio, o poeta declarou ser Álvaro de Campos e pediu perdão por Fernando Pessoa não poder comparecer ao encontro.

Ode marítima



Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,

Olho pró lado da barra, olho pró Indefinido,

Olho e contenta-me ver,

Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.

Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.

Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.

Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,

Aqui, acolá, acorda a vida marítima,

Erguem-se velas, avançam rebocadores,

Surgem barcos pequenos detrás dos navios que estão no porto.

Há uma vaga brisa.

Mas a minh’alma está com o que vejo menos.

Com o paquete que entra,

Porque ele está com a Distância, com a Manhã,

Com o sentido marítimo desta Hora,

Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,

Como um começar a enjoar, mas no espírito.


Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,

E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente.


Os paquetes que entram de manhã na barra

Trazem aos meus olhos consigo

O mistério alegre e triste de quem chega e parte.

Trazem memórias de cais afastados e doutros momentos

Doutro modo da mesma humanidade noutros pontos.

Todo o atracar, todo o largar de navio,

É — sinto-o em mim como o meu sangue —

Inconscientemente simbólico, terrivelmente

Ameaçador de significações metafísicas

Que perturbam em mim quem eu fui…


Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!

E quando o navio larga do cais

E se repara de repente que se abriu um espaço

Entre o cais e o navio,

Vem-me, não sei porquê, uma angústia recente,

Uma névoa de sentimentos de tristeza

Que brilha ao sol das minhas angústias relvadas

Como a primeira janela onde a madrugada bate,

E me envolve com uma recordação duma outra pessoa

Que fosse misteriosamente minha.
Coisa que Pessoa não conseguia ver era um lápis sem ponta. Antes de escrever, ele costumava apontá-los. Consta também que o grande poeta português também mantinha o hábito de escrever em pé.
Além de poeta, Pessoa trabalhou como tradutor, jornalista, crítico literário, editor, publicitário e até inventor. Ele também arranjava tempo para exercer o ativismo político.

Fernando Pessoa e seus heterônimos

O ortônimo e os heterônimos de Fernando Pessoa

Fernando Pessoa usou em suas obras diversas autorias. Usou seu próprio nome (ortônimo) para assinar várias obras e pseudônimos (heterônimos) para assinar outras. Os heterônimos de Fernando Pessoa tinham personalidade própria e características literárias diferenciadas. São eles:

Álvaro de Campos

Era um engenheiro português de educação inglesa. Influenciado pelo simbolismo e futurismo, apresentava certo niilismo em suas obras. 

Ricardo Reis

Era um médico que escrevia suas obras com simetria e harmonia. O bucolismo estava presente em suas poesias. Era um defensor da monarquia e demonstrava grande interesse pela cultura latina.

Alberto Caeiro

Com uma formação educacional simples (apenas o primário), este heterônimo fazia poesias de forma simples, direta e concreta. Suas obras estão reunidas em Poemas Completos de Alberto Caeiro.

 FONTE: Sua Pesquisa

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